Deputado está afastado do mandato, é réu em duas ações penais no STF e ainda recebe dinheiro público
[caption id="attachment_257191" align="alignleft" width="300" caption="Deputado está afastado do mandato, é réu em duas ações penais no STF e ainda recebe dinheiro público"]

[fotografo]Agência Brasil[/fotografo][/caption]Desde que foi
afastado do mandato por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), em 5 de maio, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já custou cerca de R$ 1,8 milhão aos cofres públicos. Do total, R$ 1,4 milhão foram gastos no período em que Cunha permaneceu na residência oficial da presidência da Câmara. As maiores despesas foram com viagens em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), o equivalente a cerca de R$ 570 mil, e com serviço de segurança, em torno de R$ 550 mil. Os dois benefícios foram retirados do peemedebista depois que ele
renunciou ao comando da Casa, em 7 de julho, dois meses após a decisão do Supremo.
Mesmo proibido de atuar como deputado, Cunha preservou, graças a uma
decisão da Mesa Diretora, o direito de receber o salário de R$ 33,7 mil e de gastar até R$ 92 mil com a contratação e manutenção de servidores de gabinete. Uma situação que pode mudar no dia 12 de setembro, quando está prevista a votação em plenário do parecer do Conselho de Ética que
recomenda a cassação do mandato do peemedebista por quebra de decoro parlamentar. O deputado é acusado de ter mantido contas secretas no exterior e de ter mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras, em março do ano passado.
Antes de renunciar à Presidência da Câmara, mesmo afastado do mandato, o deputado voou 13 vezes em avião da FAB, segundo dados obtidos pelo portal UOL: foram sete voos de Brasília ao Rio, e seis da capital fluminense para a federal. Pela cotação feita pelo portal, o aluguel de uma aeronave Legacy 600, utilizada pela FAB para transportar autoridades, sairia a R$ 569 mil para atender o número de viagens feitas pelo parlamentar no período.
Na residência oficial, Cunha tinha à sua disposição oito vigilantes, 16 agentes da Polícia Legislativa da Câmara, quatro motoristas, dois veículos oficiais, arrumadeiras, auxiliares de cozinha, três cozinheiros, um chefe de cozinha e uma administradora da residência oficial. Em média, a família gastou R$ 29,6 mil mensais para comprar alimentos e outros suprimentos para a casa.
Depois de
entregar as chaves da residência oficial, em 1º de agosto, dias após ter feito uma festa de despedida com os assessores, Cunha passou a ocupar um apartamento funcional da Câmara, a exemplo da maioria dos colegas. Mesmo com a suspensão do mandato, o deputado mantém 24 funcionários de sua confiança. A única verba que ele perdeu foi a cota para o exercício da atividade parlamentar que, no caso dos deputados do Rio de Janeiro, chega a R$ 35,7 mil. A Mesa entendeu que o benefício deveria ser suspenso porque está atrelado à prática do mandato.
Os valores gastos com Eduardo Cunha consideram o período entre maio e agosto, quando a Câmara realizou 48 sessões destinadas a votação. Nenhuma delas com a participação de Eduardo Cunha. O deputado afastado está proibido de circular pelas dependências da Casa. O ministro Luis Roberto Barroso negou pedido do parlamentar, alegando que sua presença pelos gabinetes ou corredores do Congresso poderia anular os efeitos que o Supremo "buscou evitar". Cunha só compareceu para se defender no Conselho de Ética.
Benefício
|
Valor mensal (R$)
|
Meses
|
Despesa gerada (R$)
|
Subsídio mensal
|
33.763,00
|
3
|
101.289
|
Verba de gabinete
|
92.053,20
|
3
|
276.159,60
|
Administradora da residência
|
28.249,26
|
2
|
56.498,52
|
Arrumadeiras, cozinheiros e garçons
|
35.956,49
|
2
|
71.912,98
|
Vigilantes terceirizados
|
60.320,00
|
2
|
120.640
|
16 agentes da Polícia Legislativa
|
217.257,28
|
2
|
434.514,56
|
4 motoristas
|
29.390,40
|
2
|
58.780,80
|
Locação de veículos
|
9.496,00
|
2
|
18.992
|
Alimentação e custeio
|
29.600,00
|
2
|
59.200
|
Água, luz e telefone
|
5.000,00
|
2
|
10.000
|
Transporte aéreo *
|
284.500
|
2
|
569.000
|
Total
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1.776.987
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* Estimativa de gastos com voo da FAB.
Fontes: Congresso em Foco, Psol e UOL
Ao determinar o afastamento de Cunha, a pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro Teori Zavascki assinalou 11 situações em que, segundo ele, há indícios de que Cunha utilizado do mandato de deputado e presidente da Câmara para "constranger, intimidar parlamentares, réus, colaboradores, advogados e agentes públicos com o objetivo de embaraçar e retardar investigações".
Em junho, o mesmo Teori negou pedido do Psol para suspender os benefícios concedidos pela Câmara a Cunha. Para os deputados, a manutenção desses benefícios "ratifica a capacidade de influência que Eduardo Cunha mantém na Câmara". "Sem fazer juízo de valor sobre a legalidade ou não do ato atacado, matéria que foge do objeto desta demanda, o certo é que a presente reclamação não logrou êxito em demonstrar de que forma as prerrogativas garantidas a Eduardo Cunha pelo ato reclamado teriam o condão de prejudicar as apurações dos fatos criminosos a ele imputados", alegou o ministro do STF.
Além da representação no Conselho de Ética, Cunha é réu em
duas ações penais referentes à
Operação Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Em agosto do ano passado, os ministros aceitaram denúncia da PGR contra o então presidente da Câmara por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Nesse caso, a acusação é de que o peemedebista recebeu US$ 5 milhões de propina relativa a dois contratos de navios-sonda da Petrobras.
Na segunda, aceita em junho deste ano, responde por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e falsidade ideológica com fins eleitorais. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusa o parlamentar afastado de ter utilizado contas na Suíça para receber propina referente à compra pela estatal de um campo de petróleo na costa do Benin, na África, por US$ 34 milhões, em 2011.
Segundo as investigações, uma conta ligada a Cunha recebeu 1,3 milhão de francos suíços após o negócio ser fechado. O dinheiro, de acordo com a denúncia, custeou despesas luxuosas da família Cunha no exterior.
Mais sobre Eduardo Cunha
Mais sobre verbas e cotas
Mais sobre a Operação Lava Jato
Benefício
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Valor mensal (R$)
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Meses
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Despesa gerada (R$)
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Subsídio mensal
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33.763,00
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3
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101.289
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Verba de gabinete
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92.053,20
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3
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276.159,60
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Administradora da residência
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28.249,26
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2
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56.498,52
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Arrumadeiras, cozinheiros e garçons
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35.956,49
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2
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71.912,98
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Vigilantes terceirizados
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60.320,00
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2
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120.640
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16 agentes da Polícia Legislativa
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217.257,28
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2
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434.514,56
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4 motoristas
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29.390,40
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2
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58.780,80
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Locação de veículos
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9.496,00
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2
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18.992
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Alimentação e custeio
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29.600,00
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2
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59.200
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Água, luz e telefone
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5.000,00
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2
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10.000
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Transporte aéreo *
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284.500
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2
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569.000
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Total
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1.776.987
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