Líder do PT na Câmara, Enio Verri [fotografo] Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados [/fotografo]
Com a agenda privatista de sempre, mesmo quando a realidade recomenda maior ação estatal e mais investimentos públicos, a equipe econômica do governo de
Jair Bolsonaro aponta para a
privatização, até mesmo como proposta de recuperação da crise causada pela
pandemia da covid-19.
O ministro da Economia,
Paulo Guedes, chegou a anunciar - em entrevista à CNN Brasil, no último dia 6 - que o governo realizaria quatro privatizações em apenas 90 dias. Apesar de não ter revelado quais seriam as privatizações, o ministro citou como exemplo a
Caixa Econômica Federal. "As subsidiárias da Caixa são um bom exemplo. Ali, há R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões ou R$ 50 bilhões em IPO [oferta pública inicial]" disse
Paulo Guedes.
Para o líder do PT na Câmara,
Enio Verri (PR), se seguir esse caminho, o país verá o aprofundamento da crise social e econômica. Por isso, o deputado protocolou o Projeto de Lei (PL) 2715/2020, que proíbe a venda de empresas públicas até 12 meses após a pandemia.
"Nós entendemos que a presença do Estado na economia e na sociedade é determinante para reduzir desigualdades regionais e sociais", afirmou Verri ao
Informe Fenae. "Se em épocas normais você desestatizar já gera prejuízo, no sentido da qualidade dos serviços a serem entregues para a população, durante a pandemia você aprofunda a queda na qualidade dos serviços e entrega a riqueza que é resultado de uma poupança de toda a população a um preço vil. Se você tem uma crise, o preço das empresas vai cair, o preço será muito baixo", argumenta o parlamentar.
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Secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar
Foto: Marcos Corrêa/PR[/caption]
Também no início do mês, o secretário de desestatização do Ministério da Economia,
Salim Mattar, afirmou que o governo pretende ir além do que foi revelado por Guedes, e privatizar 12 estatais até 2021.
Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (
Fenae),
Sérgio Takemoto, o projeto de Verri vem em boa hora. "Mesmo diante da pandemia, [o governo] continua falando em privatizações. Mesmo que as empresas públicas e os serviços públicos como o SUS [Sistema Único de Saúde], a Caixa e os Correios mostrem que são fundamentais. Precisa-se do Estado. O Estado é fundamental em um país tão desigual como o nosso", defende.
"O presidente do banco já declarou que quer abrir o capital da Caixa Seguridade em outubro. Depois vai vender outras áreas estratégicas, como cartões e loteria. Esses setores são fundamentais para sustentar os programas que amparam a população mais carente deste país", ressaltou Takemoto.
Dentre as empresas na mira do governo estão:
Eletrobras, Associação Brasileira Gestora de Fundos (ABGF),
Correios,
Telebras, Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Empresa de Tecnologia de Informações da Previdência (
Dataprev), dentre outras. Essa agenda privatista, tem feito com que deputados de oposição pressionem pela votação do PL de Enio Verri.
A deputada
Erika Kokay (PT-DF) ressalta a importância dos bancos públicos como agentes estratégicos para a retomada da economia e para a execução de políticas sociais. "A Caixa articula projetos sociais, disponibiliza acesso a benefícios sociais, para além de Fies, de FGTS, para além de outros recursos que servem para o benefício social. É inegável a função social da Caixa", afirma a deputada.
Para o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Caixa,
Daniel Almeida (PCdoB-BA), neste momento em que os ativos estão com o preço abaixo do normal, não faz nenhum sentido abrir mão de empresas públicas. "Primeiro, do ponto de vista estratégico dessas empresas; segundo, para preservar o interesse econômico do Estado e do país, mesmo se fosse o caso de privatizar alguma coisa", disse.
O deputado destaca o trabalho social desenvolvido pela Caixa e por seus servidores, o que, na visão do congressista, demonstra que o banco é estratégico para o país. "Os servidores da Caixa Econômica têm se sacrificado e respondido com um esforço incomum, ao chamamento para cumprir esse papel", completou.
Parlamentares que simpatizam com o projeto de Enio Verri reconhecem as dificuldades para aprová-lo, mas veem na proposta o mérito de manter o tema em discussão, contribuindo assim para frear arroubos privatistas que prejudicariam o país neste momento.
O líder do DEM na Câmara,
Efraim Filho (PB), é contra a proposta do petista. Para ele, não é viável proibir as privatizações por um tempo determinado. O deputado acredita que "deve ficar a critério do Congresso avaliar caso a caso". Porém, segundo Efraim, se o apoio ao projeto de Enio Verri não é tão grande, tampouco a privatização é hoje objeto de atenção prioritária do Congresso. Ele afirma que a prioridade nos próximos meses será aprovar a
reforma tributária.
Líder do Cidadania, deputado
Arnaldo Jardim (PB), concorda com o colega do DEM. Para ele, o PL de Verri não deverá ser aprovado. Mas defende que tanto a Caixa Econômica Federal quanto o Banco do Brasil sejam excluídos de qualquer programa de privatização. "O Cidadania não é favor da privatização da Caixa nem do Banco do Brasil", enfatiza o deputado.
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