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Carnaval
Congresso em Foco
02/03/2025 | Atualizado às 21h24
As marchinhas de carnaval e os sambas-enredo vão além do entretenimento, representando expressões culturais e parte do patrimônio histórico do Brasil. Esses ritmos refletem aspectos sociais e políticos de diferentes períodos e são utilizados, muitas vezes, como meios de crítica, exaltação ou resistência. Da ditadura à democracia, diversas composições acompanharam eventos relevantes da história nacional, registrando percepções e posicionamentos de uma parcela da sociedade brasileira.
Confira dez canções que jogam luzes sobre assuntos políticos, de agora e do passado:
Trabalhadores do Brasil - a época de Getúlio Vargas (Portela 2000)
(Composição: Ailton Damião / Amilton Damião / Edinho Leal / Edyne / Zezé Do Pandeiro)
Uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro, a Portela dedicou o seu enredo, em 2000, a contar a trajetória política de Getúlio Vargas, que governou o Brasil por quase vinte anos. O samba-enredo descreveu o governo varguista como uma época de ouro e, apesar das controvérsias históricas sobre o período, mencionou que a ditadura do Estado Novo foi aclamada pela população.
"Aclamado pelo povo, o 'Estado Novo'/ Getúlio Vargas anunciou/ A despeito da censura/ Não existe mal sem cura/ Viva o trabalhador."
Na justificativa do enredo, o carnavalesco José Felix destacou que Vargas foi uma figura política complexa, descrita como "amada, odiada e vista como um grande estadista". Ele ressaltou na ocasião que o objetivo não era exaltar ou ferir sua imagem, mas destacar a trajetória política, econômica e as iniciativas sociais do ex-presidente.
Retrato do Velho (marchinha, 1951)
(Composição: Haroldo Lobo e Marino Pinto)
O samba da Portela não foi a primeira manifestação carnavalesca a homenagear Getúlio Vargas. Nos anos 1950, o ex-presidente virou tema de duas marchinhas de carnaval, um dos ritmos mais populares da época. A mais famosa, composta por Haroldo Lobo e Marino Pinto em 1951, comemorava seu retorno ao governo com versos como:
"Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar/O sorriso do velhinho/Faz a gente trabalhar."
A música fazia referência às leis trabalhistas criadas por Vargas. No entanto, ele não gostou de ser chamado de velho e chegou a pensar em censurar a canção. Como a marchinha fez muito sucesso, decidiu não interferir.
Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós (Imperatriz Leopoldinense, 1989)
(Composição: Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir)
O desfile, idealizado pelo carnavalesco Max Lopes, homenageou o centenário da Proclamação da República do Brasil, comemorado em 1989. O enredo destacou os eventos que levaram à instauração do regime republicano, incluindo o declínio do Império brasileiro, a Guerra do Paraguai, a chegada dos imigrantes e a abolição da escravidão.
"A música encanta, e o povo canta assim e da princesa/Pra Isabel a heroína, que assinou a lei divina/Negro dançou, comemorou, o fim da sina/Na noite quinze e reluzente/Com a bravura, finalmente/O Marechal que proclamou foi presidente."
Heróis da Liberdade (Império Serrano, 1969)
(Composição: Mano Décio / Manoel Ferreira / Silas De Oliveira)
No Carnaval de 1969, o primeiro após a decretação do AI-5, em meio à repressão da ditadura militar, a escola de samba Império Serrano levou para a avenida um enredo que exaltava a Inconfidência Mineira, a Independência do Brasil e a Abolição da Escravatura. No entanto, a letra do samba-enredo podia ser interpretada como uma crítica velada ao regime, resgatando lutas históricas por liberdade em um momento de crescente censura e repressão política. Os autores foram obrigados pela censura a mudar um verso da composição.
"Ao longe soldados e tambores/Alunos e professores/Acompanhados de clarim/Cantavam assim/Já raiou a liberdade/A liberdade já raiou/Essa brisa que a juventude afaga/Essa chama/ Que o ódio não apaga pelo universo/É a revolução em sua legítima razão"
O último verso foi alterado para: "É a evolução em sua legítima razão".
Grande Decênio (Beija-Flor de Nilópolis, 1975)
(Composição: Bira/Quininho)
Na contramão da Império Serrano, a Beija-Flor, de Nilópolis, exaltou os dez anos da ditadura militar no carnaval de 1975, apesar da censura, das acusações de tortura e perseguição a opositores. Em um dos samboa-enredos mais polêmicos do carnaval carioca, a agremiação reverenciou programas sociais do governo militar, como o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).
Eu quero (Império Serrano, 1986)
(Composição: Aluísio Machado / Jorge Nóbrega / Luiz Carlos Do Cavaco)
Dezessete anos após sofrer censura, a Império Serrano voltou a criticar a ditadura militar em seu desfile em 1986, em meio à redemocratização do país. O apelo era claro:
"Me dá, me dá/ Me dá o que é meu/ Foram vinte anos que alguém comeu."
A composição refletia as expectativas da população após o período ditatorial. Na letra, o regime militar foi descrito como uma tempestade, enquanto a democracia foi associada à liberdade.
Com esse desfile, a Império Serrano conquistou o terceiro lugar no Grupo Especial, um dos últimos bons desempenhos da escola nessa categoria. Atualmente, a agremiação disputa a segunda divisão do Carnaval carioca.
Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia (Beija-flor de Nilópolis, 1989)
(Composição: Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e Osmar)
Pouco mais de dez anos após exaltar a ditadura militar, a Beija-Flor fez um desfiles mais revolucionários da história do carnaval carioca. Denunciou a desigualdade social no Brasil com o enredo Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, falando sobre o lixo e o luxo. Na passarela da Sapucái, encenação de arrastão e uma réplica do Cristo Redentor, coberta após decisão da Justiça do Rio, com os dizeres Mesmo proibido, olhai por nós! ao seu redor. A escola também associava políticos a ratos.
"Reluziu, é ouro ou lata/ Formou a grande confusão/ Qual areia na farofa/ É o luxo e a pobreza/ No meu mundo de ilusão"
História pra ninar gente grande (Mangueira, 2019)
(Composição: Manu da Cuíca, Luiz Carlos Máximo, Deivid Domenico, Tomaz Miranda, Mama, Ronie Oliveira, Marcio Bola e Danilo Firmino)
Em 2019, a Mangueira conquistou o seu vigésimo título de campeã do carnaval carioca com um enredo que fazia uma revisão da história do Brasil, exaltando lideranças populares negligenciadas pela narrativa oficial, como Dragão do Mar, Luísa Mahin e Cunhambebe, e desconstruindo a imagem de figuras apontadas como "heroicas" como Pedro Álvares Cabral e Dom Pedro I. O samba também homenageou a vereadora Marielle Franco, assassinada no ano anterior.
Desde 1500/Tem mais invasão do que descobrimento/Tem sangue retinto pisado/Atrás do herói emoldurado/Mulheres, tamoios, mulatos/Eu quero um país que não está no retrato
Salve os caboclos de julho/Quem foi de aço nos anos de chumbo/Brasil, chegou a vez/De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Hutukara (Salgueiro, 2024)
(Composição: Pedrinho Da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via 13 e Ralfe Ribeiro)
O Salgueiro dedicou seu enredo em 2024 ao povo yanomami, que há anos tem a sobrevivência ameaçada pela destruição do garimpo ilegal no maior território indígena do Brasil. O samba-enredo "Hutukara faz menção ao "céu que desabou nos primeiros tempos, constituindo o plano em que nos encontramos hoje", conforme o conceito do povo Yanomami. Na letra, várias palavras da língua yanomami, com termos e expressões retiradas do livro A Queda do Céu, escrito pelo xamã Davi Kopenawa, em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert.
"Eu aprendi o português, a língua do opressor/ Pra te provar que meu penar também é sua dor/ Falar de amor enquanto a mata chora/ É luta sem flecha, da boca pra fora/ Falar de amor enquanto a mata chora/ É luta sem flecha, da boca pra fora"
Eu quero é botar meu bloco na rua (1963)
(Composição: Sérgio Sampaio)
Apresentada originalmente no VII Festival Internacional da Canção, em 1972, a música, frequentemente classificada como marcha-rancho, destaca-se pelo anti-heroísmo e por sua mensagem contestatória, crítica à repressão militar, representada na canção pela figura do personagem Durango Kid.
"Há quem diga que eu dormi de touca/Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga/Que eu caí do galho e que não vi saída/Que eu morri de medo quando o pau quebrou/Há quem diga que eu não sei de nada/Que eu não sou de nada e não peço desculpas/Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira/E que Durango Kid quase me pegou"
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