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ENTREVISTA EXCLUSIVA
Congresso em Foco
20/02/2025 | Atualizado às 19h25
O PSDB enfrenta hoje um dos momentos mais difíceis de sua história. Após anos de ressecamento, o partido que estava entre os mais poderosos do país na década de 90 e início dos anos 2000, corre o risco de entrar para a lista de siglas eliminadas pela cláusula de desempenho eleitoral. Seu presidente, Marconi Perillo, se debruça sobre a estratégia para a sobrevivência dos tucanos na arena política. Em entrevista concedida ao Congresso em Foco, ele afirmou que seu partido cogita lançar um nome para a presidência da república em 2026.
O líder tucano também revelou seu plano para assegurar com que o partido tenha tamanho para disputar em 2026. O partido discute uma solução em duas etapas para manter sua relevância institucional. O primeiro passo seria uma fusão com partidos menores ou de tamanho semelhante, garantindo a preservação da identidade tucana. Caso isso ocorra, o nome do partido poderia ser mantido, possivelmente com uma nova denominação, como "PSDB+X". Em um segundo momento, formar uma federação com um partido maior, citando como exemplo o MDB. A decisão final, incluindo a escolha das siglas, está prevista para acontecer em março.
Marconi Perillo também expôs sua leitura sobre os motivos do declínio do partido na última década, bem como as expectativas para as eleições de 2026 nos estados mais desafiadores para os candidatos tucanos.
Confira a entrevista:
Congresso em Foco - O PSDB era uma força política dominante no Brasil até as eleições de 2018, e hoje enfrenta um sério ressecamento de bancadas. Na sua leitura, o que deu errado para isso acontecer?
O PSDB teve uma ascensão meteórica. Com apenas seis anos de fundação, já chegamos à Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso. Desde então, até 2014, fomos protagonistas das eleições presidenciais e o principal antagonista do PT.
O partido construiu um legado importante, como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, os medicamentos genéricos, o Fundef e os avanços na telefonia. Além disso, governamos 18 estados, deixando contribuições importantes em cada um deles.
Mesmo estando há 23 anos fora do Poder Federal, conseguimos manter bancadas no Senado e na Câmara graças à nossa influência local e às candidaturas presidenciais que lançamos, sempre fazendo oposição ao PT.
Erramos ao focar nossa campanha muito no combate a [Jair] Bolsonaro e deixar um pouco de lado o PT, que sempre foi nosso antagonista. Isso fez com que parte do nosso eleitorado tradicional nos deixasse, achando que estávamos sendo uma linha auxiliar do PT.
A estratégia era derrotar Bolsonaro no primeiro turno para que o PSDB fosse o principal adversário do PT no segundo turno, mas essa leitura se mostrou equivocada.
Depois, enfrentamos uma disputa interna difícil nas prévias de 2022. João Doria venceu, mas, por várias razões, não pôde ser candidato. Defendíamos que Eduardo Leite, que quase empatou com Doria nas prévias, fosse o candidato. No entanto, o PSDB havia feito um acordo com o MDB para apoiar Simone Tebet, em troca do apoio à nossa candidatura ao governo de São Paulo.
Esse foi um erro grave. Não ter um candidato próprio à Presidência da República em 2022 prejudicou o partido e contribuiu para nossa pior bancada na Câmara, com apenas 13 deputados. No Senado, chegamos a ter apenas um senador no ano passado, e agora estamos nos reestruturando, tendo de volta três nomes e nosso gabinete de liderança.
Quais caminhos estão na mesa para a sobrevivência do partido?
Defendemos a cláusula de barreira para fortalecer os partidos e dar mais nitidez ideológica ao sistema político, mas agora isso também se tornou um desafio para nós. Hoje, estamos em uma situação delicada e precisamos buscar entendimento com outros partidos.
Nossa estratégia é uma solução em duas etapas. Primeiro, queremos fazer uma fusão com um ou mais partidos de tamanho menor ou semelhante ao nosso, preservando nossos princípios e programas. Depois, talvez até o final do ano, podemos pensar em uma federação com um partido maior.
Conversamos com vários partidos, incluindo o MDB, e avaliamos diferentes alternativas. Mas o foco é preservar o PSDB, sua história, seus filiados e sua identidade. Se houver uma fusão, o nome PSDB será mantido, mesmo que talvez com uma modificação como "PSDB+X"
Devemos ter um tucano disputando a presidência em 2026?
A gente espera que sim, e temos bons nomes. O objetivo é construir um espaço no centro democrático que seja forte o suficiente para romper a polarização entre extrema-direita e extrema-esquerda. Isso não significa necessariamente que o candidato será do PSDB, mas queremos garantir que haja uma alternativa viável.
O PSDB cogita tentar reconquistar o espaço perdido em São Paulo?
Se o Tarcísio for candidato a presidente da república, o espaço para o governo de São Paulo vai estar aberto, e todo mundo pode disputar esse espaço. O PSDB tem uma história nesse espaço, e há margem para voltarmos.
Para você ter uma ideia: no segundo turno em São Paulo [capital, 2024], houve muito voto nulo. 20 mil pessoas, eleitores, foram às ruas e votaram no número do Pablo Marçal, que teve 1 milhão e 700 mil votos no primeiro turno. Mas 16 mil eleitores anularam o voto digitando 45. Isso mostra o quanto nosso legado é forte no inconsciente coletivo de São Paulo.
Tarcísio faz parte de um partido em processo de ascensão, o Republicanos. Vocês consideram trazer eles para essa coalizão caso o governador não queira disputar a presidência?
Sim, estamos conversando com o Republicanos. O presidente [da Câmara dos Deputados], Hugo Motta (PB), tem uma boa relação com nossa bancada e já pediu uma conversa. Essa reunião deveria ter acontecido esta semana, mas foi adiada por uma pequena cirurgia do presidente Marcos Pereira. Seguimos abertos ao diálogo.
O PSDB de Pernambuco terá um desafio especialmente complicado em 2026, com a possibilidade de entrada de João Campos na disputa pelo governo. O senhor acredita na possibilidade de reeleição da governadora Raquel Lyra?
Eu já enfrentei uma situação parecida quando fui candidato à reeleição contra um ex-governador muito forte e popular em 2002 [Maguito Vilela, MDB]. Trabalhei muito, mostrei meu trabalho, fui para os debates e venci no primeiro turno.
Raquel Lyra está fazendo um bom governo, focado em mudanças na gestão e entregas concretas. Algumas pessoas dizem que ela não é muito política, porque sua abordagem é mais técnica, mas isso tem trazido resultados. Ela fez uma grande reforma no estado e tem muitos recursos para investir.
Nas eleições municipais, ela mostrou força. Na região metropolitana do Recife, apoiou candidatos em Paulista e Olinda contra os apoiados por João Campos, e venceu em ambas as cidades. Isso é um sinal positivo para sua reeleição.
Como avalia o atual mandato do presidente Lula?
O PSDB sempre foi oposição ao modelo do PT, que governa com um viés ideológico excessivo. Há tempos alertamos para erros na política econômica e internacional.
Defender grupos como o Hamas, Nicolás Maduro e fechar os olhos para a fraude eleitoral na Venezuela são posturas que não condizem com a democracia.
Na economia, sempre dissemos que sem uma política fiscal austera, a inflação voltaria e os juros disparariam. É exatamente o que está acontecendo agora. A escalada dos juros tem levado muitas empresas à recuperação judicial, prejudicando a economia como um todo. O Banco Central tenta conter isso, mas sem uma política fiscal séria, o problema persiste.
Nosso papel segue sendo o de uma oposição responsável, chamando atenção para esses erros e buscando construir uma alternativa equilibrada para o Brasil.
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