Para Rubinho Nunes, Janaína Paschoal já sinaliza apoio a Sergio Moro. Foto: Edilson Rodrigues/Ag. Senado
Maio de 2019. Lembro-me de quando o
MBL rompeu de vez com o governo Bolsonaro, logo no início do mandato. À época, já criticávamos várias atitudes do presidente e a gota d'água veio com a manifestação claramente golpista da qual o chefe da República participou no dia 26 daquele mês.
Por seguir nossa linha de atuação e por criticar, desde lá, o "mito" Jair Bolsonaro, fomos alvo de todas as acusações possíveis: "traidores", "interesseiros" e "nova esquerda" foram as principais, mas não as únicas e tampouco as mais amenas.
Todavia, o tempo é implacável, ele demonstrou que nossas previsões foram certeiras. Bolsonaro não apenas continuou a exaltar e promover teses e manifestações golpistas, bem como afundou-se em corrupção (pretérita e contemporânea ao mandato presidencial).
Apesar dos crimes contra a humanidade que Bolsonaro cometeu durante a pandemia, as frequentes ameaças autoritárias e os escândalos de corrupção, muitos políticos ou figuras públicas que cresceram midiaticamente sob o discurso da "independência" e da "imparcialidade", continuaram colados na figura do presidente. Diversos parlamentares e influenciadores que eram vistos pela opinião pública como líderes de um novo grupo político em ascensão, praticaram justamente o oposto do que pregavam: se deixaram levar pelos "
likes", compartilhamentos e engajamento do público bolsonarista (ou dos robôs do filho 02) nas redes sociais.
Três anos se passaram desde o início do governo Bolsonaro e, após uma gestão desastrosa, os resultados de sua política nefasta se refletem em pesquisas de opinião. Pela primeira vez, a aprovação do presidente ficou abaixo dos 20%, enquanto a intenção de voto do potencial nome para a terceira via,
Sergio Moro, já atinge os 13,7% (Atlas/dezembro).
Como esperado, as mesmas figuras oportunistas que surfaram a onda do bolsonarismo até agora já buscam se desvincular do presidente e tentam colar no ex-ministro da Justiça. Não por convicção ideológica, mas por mero parasitismo.
Um exemplo melancólico, mas bastante claro, é o caso da deputada estadual Janaína Paschoal. A parlamentar passou três anos endossando o discurso antivacina de Jair Bolsonaro, fez ouvidos moucos para os avanços autoritários do presidente e deu de ombros ante à incompetência do governo federal na gestão da pandemia.
Todavia, em recente entrevista ao humorista Rogério Vilela, afirmou que Moro é um "excelente candidato". Do mesmo modo, o bolsonarista (não se sabe se por convicção ou remuneração) Caio Coppola alegou no programa Pânico, da rádio governista Jovem Pan, que irá dar o "benefício da dúvida" para a candidatura de
Sergio Moro. Em ambos os casos, a repentina mudança de opinião e a inegável falta de caráter dos citados causou reação severa do público bolsonarista, em medida até mais intensa que a sofrida pelo MBL naquele maio de 2019.
Resta cristalino que pessoas como essas não estão simplesmente avaliando as propostas e convicções de Moro para estabelecer se irão ou não apoiar sua candidatura e seus projetos. Essas pessoas se pautam pelo oportunismo político e estão apenas "sentindo o clima" de seus comentários e como eles repercutem entre seus seguidores nas redes sociais. Caso os "
likes" aumentem ou se mantenham estáveis, colarão na candidatura de Moro. No entanto, se essa nova opção política for rechaçada, essas pessoas se amesquinham ainda mais e permanecem vinculadas no bolsonarismo para poder "tirar uma casquinha" nas eleições vindouras.
O eleitor deve se perguntar sobre seu potencial candidato: onde ele estava quando Bolsonaro tentou confiscar vacinas de São Paulo por atritos políticos com o governador João Doria? Onde ele estava quando o presidente se aproveitou de uma pandemia que vitimou 600 mil brasileiros para insuflar um clima revolucionário no país? O que ele achou da troca de ministros técnicos por membros do Centrão? O que ele disse sobre a filiação de Bolsonaro ao partido de Valdemar da Costa Neto?
O maior medo daqueles que estão abandonando o barco bolsonarista a essa altura do campeonato é que o eleitor se lembre dos absurdos que eles defenderam nos últimos três anos. Esses oportunistas apostam na memória curta do brasileiro para a política.
Em 2022, o eleitor deverá distinguir entre os que enxergaram os erros do governo desde sempre e se recusaram a permanecer ao lado do golpismo e aqueles oportunistas de primeira hora que abandonam seus princípios ao quantificarem suas posições políticas. Como diz o sábio: "as palavras convencem, mas o exemplo arrasta". Que em 2022, os exemplos nos arrastem para longe do populismo e da corrupção.
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