A ideia em um segundo
A análise baseada na técnica do nominate mostra a influência da pauta ambiental na clivagem governo-oposição na Câmara dos Deputados. A radicalização no tema apresenta-se superior àquela do conjunto das votações e a pauta ambiental, especificamente sua defesa, não se encontra monopolizada em poucos partidos. Em suma, meio ambiente é um tema transversal e central para o Legislativo hoje. |
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Usando a técnica do nominate, o Farol detalha o comportamento da Câmara na análise dos temas ambientais (Foto: Eduardo Santos/Flickr)[/caption]
Em edição passada do Farol, apresentamos a técnica do nominate para analisar o Legislativo. Assim como distribuímos os legisladores na famosa escala "esquerda-direita", o nominate permite posicionar os parlamentares a partir de dimensões latentes nas votações nominais, como governismo ou mesmo alguma temática - meio ambiente, direitos humanos, liberalismo econômico, etc.
Para o cidadão que acompanha de longe as principais notícias da política, a grande divisão governo-oposição basta para compreender muitos assuntos. Contudo, a análise acurada do Poder Legislativo precisa capturar as nuances do comportamento dos parlamentares. A identificação de padrões não muito aparentes importa sobretudo aos profissionais e grupos que atuam junto ao Congresso na defesa de pautas específicas.
Nesta edição do Farol, exploramos uma temática importante e que vem ganhando destaque sobretudo pelo alto nível de embate e contestação entre os grupos envolvidos, a defesa do meio ambiente.
No visual, a radicalização
A análise considerou todas as votações nominais da Câmara dos Deputados no período 2019-2021 e tomou como filiação partidária a do final do ano passado, antes da "janela partidária" e da criação do União Brasil.
Votações nominais permitem conhecer a posição do parlamentar, se favorável ou contrário à matéria. No período, registramos 1.469 votações e a análise considerou 1.256 delas.
A técnica do nominate agrupa os parlamentares a partir de seus votos. Assim, dois deputados com números próximos ou iguais na escala (que varia de -1 a +1) votaram na grande maioria das vezes da mesma forma, do que se conclui que votam a partir de valores ou influências similares.
Para o caso brasileiro, a literatura reconhece que a grande divisão dos parlamentares se dá na dimensão governo-oposição. Contudo, aqui exploramos a influência de uma pauta específica, a de meio ambiente, nesse grande alinhamento.
A análise gráfica dos indicadores mostra a radicalização da temática do meio ambiente. O primeiro gráfico, que considera proposições de Todos os Temas, mostra oposição e governo em campos bastante distintos. Contudo, quando se consideram apenas as Matérias de Meio Ambiente, ao mesmo tempo em que há visualmente uma interpenetração maior dos grupos, vê-se também o avanço das posições para os extremos do gráfico (valores -1 e +1 na escala horizontal)¹.
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¹
Considerou-se oposição: PT, PSB, PSOL, REDE, PDT, PCdoB. Governo são todos os outros.
A Disputa nos Extremos
Na tabela de Todas as Votações os deputados foram alinhados pelo indicador nominate e têm-se as posições de 1º? a 581º. O número positivo ou negativo é uma definição arbitrária. O que importa de fato é a proximidade e o agrupamento dos parlamentares.
Quando consideradas todas as matérias analisadas, os extremos da distribuição são muito interessantes. De um lado temos 9 parlamentares do PSL mais um do PP e do outro 10 deputados do Psol. No caso de todas as matérias o aspecto partidário é então central, ressaltada a homogeneidade desses grupos.
TODAS AS VOTAÇÕES
Posição |
Deputado% |
Partido |
Nominate
1º dimensão |
1º |
Ricardo Pericar |
PSL |
-0,9058 |
2º |
Chris Tonietto |
PSL |
-0,8828 |
3º |
Junio Amaral |
PSL |
-0,8742 |
4º |
Luiz Philippe de Orleans e Bragança |
PSL |
-0,8605 |
5º |
Guiga Peixoto |
PSL |
-0,8589 |
6º |
Capitão Derrite |
PP |
-0,8435 |
7º |
Caroline de Toni |
PSL |
-0,8421 |
8º |
Daniel Freitas |
PSL |
-0,8375 |
9º |
Bia Kicis |
PSL |
-0,8364 |
10º |
Carla Zambelli |
PSL |
-0,8351 |
... |
... |
... |
... |
572º |
Luiza Erundina |
PSOL |
0,7585 |
573º |
Talíria Petrone |
PSOL |
0,7759 |
574º |
Fernanda Melchionna |
PSOL |
0,7987 |
575º |
Vivi Reis |
PSOL |
0,7993 |
576º |
Ivan Valente |
PSOL |
0,8048 |
577º |
Sâmia Bomfim |
PSOL |
0,8134 |
578º |
Áurea Carolina |
PSOL |
0,8139 |
579º |
Glauber Braga |
PSOL |
0,8141 |
580º |
David Miranda |
PSOL |
0,8201 |
581º |
Edmilson Rodrigues |
PSOL |
0,8286 |
Quando consideradas apenas as matérias relacionadas a meio ambiente (91 votações no total, analisadas 71), vê-se que a composição dos extremos muda bastante.
Os polos antagonistas definem-se de um lado por um agrupamento de PSL, PP, PR, Solidariedade e MDB e de outro por PROS, PT, PMN, PSB e PV.
Há duas constatações importantes. A primeira mostra que a temática ambiental consegue romper em parte a homogeneidade partidária dos extremos. Em outras palavras, a questão ambiental, seja de que lado se esteja, espraia-se por uma variedade de siglas.
A segunda mostra que, enquanto PSL e Psol expressaram os extremos do governismo e oposição entre 2019 e 2021, a pauta ambiental foi protagonizada, sobretudo no eixo oposicionista, por outros partidos, com destaque para PV e PT.
Matérias relacionadas a Meio Ambiente
Posição |
Deputado |
Partido |
Nominate
1ª dimensão |
1º |
Coronel Tadeu |
PSL |
-0,9993 |
2º |
Vitor Hugo |
PSL |
-0,9987 |
3º |
Ricardo Barros |
PP |
-0,9985 |
4º |
Filipe Barros |
PSL |
-0,9974 |
5º |
Vinicius Gurgel |
PR |
-0,9973 |
6º |
Hiran Gonçalves |
PP |
-0,9972 |
7º |
Delegado Waldir |
PSL |
-0,9971 |
8º |
Aureo Ribeiro |
SOLIDARIEDADE |
-0,9956 |
9º |
Márcio Biolchi |
MDB |
-0,9947 |
10º |
Newton Cardoso Jr |
MDB |
-0,9903 |
... |
... |
... |
... |
485º |
Clarissa Garotinho |
PROS |
0,9127 |
486º |
Nilto Tatto |
PT |
0,9127 |
487º |
Eduardo Braide |
PMN |
0,9130 |
488º |
Elias Vaz |
PSB |
0,9133 |
489º |
Gonzaga Patriota |
PSB |
0,9166 |
490º |
Airton Faleiro |
PT |
0,9349 |
491º |
Joseildo Ramos |
PT |
0,9582 |
492º |
Célio Studart |
PV |
0,9754 |
493º |
Jorge Solla |
PT |
0,9949 |
494º |
Professor Israel Batista |
PV |
0,9997 |
Ao longo dos últimos três anos, assistiu-se no Legislativo ao recrudescimento do embate na causa ambiental. Os dados trazidos aqui no Farol permitem dar concretude às impressões e mesmo mensurar o nível de radicalidade dessa temática específica.
Termômetro
CHAPA QUENTE |
GELADEIRA |
O anúncio da pré-candidatura de Luciano Bivar pelo União Brasil é parte de um movimento da chamada terceira via que vale ser acompanhado. No fundo, o que se comenta é que se trata de uma reserva de posição. Os partidos da terceira via combinaram que até o dia 18 de maio fecharão um nome único que venha a ser apoiado por União, MDB, PSDB e Cidadania (o União agora fala em procurar também Ciro Gomes, do PDT). O União é o dono da maior verba do fundo partidário e do maior tempo de TV entre todos os partidos. Esse é o cacife de Bivar. O que se comenta é que o desejo do União é tê-lo como candidato a vice numa chapa encabeçada pela senadora Simone Tebet (MDB-MS). |
O problema desse desejo e conseguir emplacá-lo dentro do próprio MDB de Simone Tebet. Como se viu no jantar que houve esta semana para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na casa do ex-senador Eunício Oliveira, há uma parte do partido que deseja desistir de Simone e embarcar já no primeiro na candidatura petista. Há quem considera que o MDB poderá acabar repetindo o que aconteceu em 1998, quando o pré-candidato do partido era o ex-presidente Itamar Franco. A candidatura de Itamar foi levada até a convenção e, nela, sua pretensão acabou traída: a maioria do partido colocou-se contra a candidatura, e o MDB nem teve candidato próprio nem apoiou oficialmente ninguém, liberando as bancadas estaduais a apoiarem a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. |