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MENDONÇA DE BARROS
24/02/2025 | Atualizado às 12h59
Aos 82 anos, volto a participar do debate público sobre economia e política, estimulado pelo reencontro com Amanda Brito. Depois de vários anos afastados, relembramos sua presença constante em minha trajetória como colunista da Folha de S. Paulo e, posteriormente, do Valor Econômico.
Amanda também esteve ao meu lado quando tive a felicidade de ser convidado pelo inesquecível Ricardo Boechat para ser seu companheiro semanal na BandNews. Acompanhei de perto essa nova experiência jornalística até que sua trágica morte privou a imprensa brasileira de uma de suas vozes mais marcantes.
Foi Amanda quem me incentivou a voltar a escrever periodicamente sobre economia e política, após um longo afastamento. Minha primeira reação foi uma negativa calorosa, pois não via sentido em reviver o passado depois de uma longa carreira profissional. Sinto que estou percorrendo a última milha da minha vida e me perguntava: o que eu poderia trazer de novo ao debate público no Brasil, sem cair apenas em memórias e saudades?
Lembrei-me do período rico em ensinamentos que vivi desde a Lei da Anistia, que trouxe de volta ao Brasil companheiros de luta estudantil como José Serra e Paulo Renato Souza, além de tantos outros exilados. A política voltou à minha vida naquela época, mas será que ainda fazia sentido para mim hoje?
Disse a Amanda que esse retorno não seria natural, pois corria o risco de se tornar apenas uma recordação nostálgica de um Brasil que não existe mais. No entanto, ela insistiu e me arrancou uma promessa: refletiria um pouco mais sobre a possibilidade de me tornar colunista quinzenal do Congresso em Foco, veículo com o qual ela mantinha proximidade em suas andanças por Brasília.
Antes mesmo de nos despedirmos, já havia me rendido ao convite - não para reviver o passado, mas para olhar para o futuro. Um futuro incerto, em meio ao colapso da velha ordem liberal mundial, que acompanhei desde jovem, ainda na universidade, em 1962.
Sinto-me profundamente impactado pela ascensão do que alguns analistas chamam de "Democracia do Senso Comum", moldada a partir do primeiro mandato de Donald Trump e impulsionada pelo movimento MAGA nos Estados Unidos, além de fenômenos semelhantes na Europa.
Diante desse cenário, decidi aceitar o convite do Congresso em Foco para escrever uma coluna periódica. Meu objetivo é refletir sobre esse desfecho catastrófico da institucionalidade liberal, que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, permitiu que grande parte da humanidade vivesse em democracias políticas e desenvolvesse suas qualidades profissionais e empresariais sem sobressaltos.
Escreverei sobre esse colapso do mundo no qual vivi por mais de oito décadas e as consequências desse novo sistema que se autodenomina "Democracia do Senso Comum", concebido como uma reação à democracia que, segundo seus defensores, teria sido dominada pelo pensamento intelectual e científico. Com a energia de um jovem assustado, tenho acompanhado esse fenômeno por meio da imprensa e das reflexões mais profundas de cientistas políticos e economistas e pretendo refletir sobre como vejo essa transição e seus impactos aqui, no Congresso em Foco.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].