Programas orçamentários de interesse do Ministério do Meio Ambiente receberam emendas de apenas 27 deputados e quatro senadores. Foto: Ibama/Divulgação
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao
Ministério do Meio Ambiente, editou uma portaria nesta sexta-feira (12) que pode impedir a manifestação de pesquisadores do órgão em quaisquer de suas publicações. O texto prevê uma espécie de censura prévia para a liberação de pesquisas do instituto.
A medida está na edição de hoje do
Diário Oficial da União:
A portaria prevê que, a partir de 1º de abril, todas os "manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins" terão de passar pelo crivo do Diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio.
O cargo, hoje, é ocupado por
Marcos Aurélio Venancio, tenente-coronel da reserva da
Polícia Militar do estado de São Paulo. O próprio presidente do
ICMBio hoje é um ex-PM paulista,
Fernando Cesar Lorencini. Ambos possuem formação na área do Direito, mas enquanto Venancio tem experiência com polícia ambiental no estado de São Paulo, o currículo de Lorencini no ICMBio não indica nada neste sentido.
A medida foi mal recebida por quem acompanha a questão ambiental no Brasil. O Observatório do Clima, rede de 37 entidades da sociedade civil que discutem as mudanças climáticas no contexto brasileiro,
chamou a medida de "mordaça".
A especialista-sênior do órgão, Suely Araújo, aponta que a decisão influencia a pesquisa em 14 centros ligados ao Instituto Chico Mendes - entre eles o Tamar, referência mundial em conservação marinha.
"Não faz sentido. Dados públicos sobre as unidades de conservação devem ser aplicados em pesquisa e divulgados. Ninguém publica dados sigilosos, se é que há dados sobre as áreas protegidas que possam ter essa qualificação. O ato demonstra desconhecimento sobre o ICMBio e visão distorcida quanto aos servidores públicos", disse Suely, que foi presidente do Ibama entre 2016 e 2018. "Leio como censura."
O
Congresso em Foco buscou o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente para entender o motivo das mudanças, mas ainda não obteve retorno. O espaço permanece aberto para manifestações.
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