Prédio residencial no Plano Piloto, região central de Brasília. Ministros e mesmo ex-ministros estavam em apartamentos funcionais [fotografo] Gabriel Fernandes via Flickr[/fotografo]
Dezesseis autoridades que não exercem mandato de senador ocupam imóveis funcionais do Senado atualmente. Dez ministros do Superior Tribunal de Justiça (
STJ), quatro deputados federais (um deles que "herdou" uma unidade do pai senador), uma ministra do Tribunal de Contas da União (
TCU) e um integrante do Conselho Nacional de Justiça (
CNJ) estão na seleta lista de ocupantes de apartamentos do Senado.
Localizados em pontos privilegiados do Plano Piloto de Brasília - onde um aluguel com frequência ultrapassa os R$ 4 mil mensais - esses imóveis são cedidos por diferentes razões a membros do Judiciário e do Legislativo.
Veja a lista completa:
STJ
O regimento do STJ estabelece que é obrigatório que seus ministros tenham residência no Distrito Federal. "Não se trata de mera cessão sem ônus", aponta o ministro Og Fernandes, que está em um dos imóveis desde agosto de 2019. O ministro explica que o pagamento é "uma espécie de aluguel que vem do recurso orçamentário do STJ e que é repassado para o Senado", e que os magistrados não recebem nenhum tipo de auxílio-moradia.
Um
termo de cooperação assinado em outubro de 2014 entre o Senado e o STJ previa um "contrato de aluguel" de R$ 3.800 por apartamento até outubro de 2019. Em 2020, o valor foi revisto para
R$ 4.377 a unidade.
O primeiro acordo foi assinado pelo então secretário-geral da Mesa Diretora do
Senado, Luiz Fernando
Bandeira de Mello Filho. Hoje conselheiro do CNJ, Luiz Fernando também aparece como um dos ocupantes.
É do STJ o uso mais antigo de apartamento funcional do Senado por não senadores - caso do ministro Benedito Gonçalves, que mora em uma dessas unidades desde junho de 2009. Também é de lá o inquilino mais recente. O ministro Joel Ilan Paciornik ocupa um imóvel do Senado desde fevereiro. Em resposta, o STJ disse que não possui quantidade suficiente de imóveis funcionais cedidos pela União para atender a necessidade de moradia de todos os ministros nomeados, "razão pela qual tem um acordo com o Senado Federal (União) que visa suprir este fim".
De mudança
A atual presidente do TCU, Ana Arraes, também mora em imóvel do Senado. O ex-ministro José Múcio, que se aposentou no fim do ano passado, entregou o imóvel onde morava na semana passada. "Eu deixei o cargo em 31 de dezembro de 2020, e depois disso há um prazo de 90 a 120 dias para que se desocupe o apartamento", disse o ex-ministro de 72 anos.
"Como não há nem senador eleito nem ministro do TCU ocupando o apartamento, não foi me dada pressa", conta José Múcio, que foi deputado e ministro de Estado. "Mas estou saindo dele [
do apartamento], e hoje mesmo já estou de mudança para um apartamento novo", disse Múcio ao
Congresso em Foco na semana passada.
Questionado, o TCU disse que ressarce o Senado pelo uso de dois apartamentos funcionais desde 2014 - e que o próprio Senado faria uso de um apartamento funcional do TCU. Um documento de 2014 indica que o valor pago pelo TCU ao Senado
era de R$ 3.800 - mas não há indicativo do quanto seria pago hoje. Outro contrato indica que a troca previa a cessão de quatro apartamentos do Senado na quadra 309 sul, enquanto um apartamento do TCU na quadra 207 sul seria destinado a senador.
O CNJ, cujo único apartamento é ocupado por Luiz Fernando
Bandeira de Mello Filho, disse que não possui gestão sobre o imóvel ocupado por
Bandeira de Mello, que ainda teria cargo no Senado e ocuparia o apartamento pela Casa Legislativa. O CNJ também disse que o o conselheiro não recebe auxílio-moradia.
Apartamento vazio
O advogado e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) Camilo Onoda Caldas explica que o próprio Senado pode regulamentar as normas de aluguel e cessão dos imóveis. Procurado, o Senado disse dispõe do uso de 75 apartamentos da União, e que o único imóvel sob responsabilidade da Casa é a residência do presidente do Senado. Uma determinação de 2010 diz que "os apartamentos de uso privativo dos senadores e os imóveis residenciais da reserva técnica do Senado Federal, a critério da autoridade competente, poderão ser cedidos a outros órgãos, autarquias, fundações públicas e empresas públicas, para utilização com fins residenciais."
O advogado considera que é fundamental que exista uma justificativa - no caso dessa cessão, a mais plausível seria o fato de ele não estar sendo utilizado. "Entendo que a pessoa que ocupa o imóvel deve ter alguma relação com as funções exercidas pelo senador", pondera. "Ou seja, no exercício do seu mandato deve ter uma funcionalidade nesse sentido para o Senado ou para o senador em particular."
"O fato é que deixar o imóvel desocupado não é o melhor para que o apartamento tenha a tendência de ficar conservado e durar mais se ele não for utilizado", conclui o constitucionalista. "É até bem-vindo, desde que essa ocupação se dê em vista do interesse público, que fosse possível se pensar nesse tipo de cessão".
O herdeiro
Quatro deputados também ocupam imóveis do Senado. São eles: a deputada
Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da legenda; o deputado
Aécio Neves (PSDB-MG), que hoje preside a Comissão de Relações Exteriores;
Walter Alves (MDB-RN), e
José Medeiros (Podemos-MT). Gleisi, Aécio e Medeiros foram senadores.
Walter, no entanto, nunca ocupou uma cadeira no Senado. "Herdou" o imóvel do pai, o ex-senador Garibaldi Alves (MDB-RN). Walter confirmou que ocupa o mesmo apartamento que era habitado pelo pai e diz que é responsável apenas pelas contas inerentes à residência, como água, luz e internet.
Gleisi escolheu ficar no apartamento em que morava enquanto exerceu o mandato de senadora pelo Paraná, entre 2011 e 2019 . "
Há um convênio entre Senado e Câmara, em que deputados podem ficar em imóveis funcionais do Senado e senadores ficar nos da Câmara", resumiu a deputada. "Por isso, permaneci no imóvel que eu já morava."
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